Como transformamos a dança urbana brasileira
São Paulo, 2009. O que fiz nesse ano explodiu a cena da dança urbana brasileira. Não tô brincando. O que aconteceu nos próximos anos mudou tudo.
Pois é, galera. Antes do D-Efeitos, eu e o Dedo já trabalhávamos juntos no grupo Funk Fanáticos. Foi nesse período que os experimentos com Popping e Animation estavam uma loucura pra nós. Essas técnicas seriam base pro D-Efeitos.
Funky glitch robots
Pensa nisso:
- Robot e Animation eram meu foco
- Descobri o álbum “Crying Over Pros For No Reason” num fórum
- Dançarinos como U-Min e Chibotics me hipnotizavam
- E a Glitch Art? Aquilo era o futuro
Falei sobre toda essa primeira parte no post sobre o início do D-Efeitos.
Aí passei a ideia pro Dedo e também convidei um cara de fora, o Livi, de Balneário Camboriú. Trio formado.
Mistura tudo isso no caldeirão da cena Funk Styles de São Paulo. Boom! D-Efeitos nasceu.
A filosofia que bugou sistemas
“Música com defeitos, dança com efeitos.”
Lê de novo. Parece simples, né? Mas foi essa filosofia que virou a dança de cabeça pra baixo.
As falhas e erros rítmicos, os defeitos sonoros presentes nas músicas viraram efeitos visuais corporais pra nós.
A música fazia “zimm zup plic TCHOM” e nosso corpo acompanhava automaticamente como se estivesse programado.
Sincronia perfeita. Execução impecável. Fruto de horas de ensaio e perfeccionismo.
Nosso corpo virou um bug de computador vivo. O figurino, a iluminação, os elementos cênicos – tudo temática glitch.
2009: Decolagem
Começo do ano, criamos a primeira coreografia. O grupo não tinha nome ainda. Colocamos o nome da coreografia como “D-Efeitos”.
Testamos de bobeira numa Rockmaster Party na rua Augusta pra ver se funcionava.
Festa pequena, mas o pessoal gostou. Agora estávamos prontos pra dançar em outros lugares.
E aí começou a loucura:
- Festival de Dança Mary Rosa: Primeiro lugar.
- Festival Passo de Arte: Primeiro de novo.
- Festival de Dança de Joinville – o maior do mundo na época. Primeiro.
Cheguei em Joinville e mostrei nossa fita de ensaio pro Kako Zapelini, um amigo veterano de festivais, antes dessa competição em Joinville.
O cara ficou parado com os olhos arregalados por uns 20 segundos. “Em tantos anos de dança e coreografia, eu nunca vi uma coisa igual a essa na minha frente.”
Resultado? Campeões. E eu ainda recebi indicação de melhor coreógrafo do festival – incluindo todas as modalidades dos 10 dias. Não ganhei, mas pra primeira inscrição como coreógrafo, tá bom!

Fim de 2009. “Qual é Seu Talento?” na TV.
Foi meio por acaso. Meu amigo Soldierman entrou em contato comigo. A produção do programa tava procurando participantes através dele.
Ele queria que eu entrasse como dançarino solo, mas sugeri o D-Efeitos que tava indo bem depois desses festivais.
A competição? Dezenas de milhares de participantes do Brasil inteiro. Dança, música, mágica, canto, acrobacias, esquetes – valia tudo.
O prêmio? 100 mil reais em barras de ouro.
Adivinha quem ganhou?
Nem nós mesmos acreditamos. De repente, éramos o grupo robótico mais famoso do Brasil. Dentro da dança urbana, éramos indisputavelmente os mais relevantes.
Reconhecidos na rua, no mercado, na farmácia, no ônibus.
A dança urbana tinha seus novos poster boys.
Bora
A partir daí nossa consolidação e expansão começou:
- Juntamos as coreografias do “Qual é Seu Talento” e criamos o show “Primeiro Ato” – nossa primeira apresentação mais longa
- Criamos nossa própria mostra de dança, convidando grupos da mais alta qualidade na época: Frank Ejara, Kahal, Wazimu
- Na TV:
- SBT: Eliana e Domingo Legal
- Globo: Domingão do Faustão – Se Vira nos 30
- TV Cultura: Manos e Minas
- TV Gazeta: Todo Seu e Mulheres
- Em festivais por todo o Brasil:
- Minas Gerais
- Santa Catarina
- Mato Grosso do Sul
- Paraná
- Ceará
- Rio de Janeiro
Do nada, estávamos dançando num buffet privado de grandes executivos da C&A. Festa do lançamento da linha da Stella McCartney. D-Efeitos ali no meio da galera chique, fazendo movimentos robóticos numa roda.
Dance Europe. Uma das revistas mais respeitada da dança mundial prestou atenção no que a gente tava fazendo aqui no Brasil.
Não é pouca coisa, né?

Crescendo o time
Final de 2010, começo de 2011: Vini Azevedo, meu brother de Bauru do grupo Wazimu, se mudou pra São Paulo. Passou a morar comigo. Estreou no show da Stella McCartney.
Pouco depois: Daniel Juno e Guilherme Riku entraram pro time.
Junão da cena Funk Styles paulista, Riku da companhia Kahal de Jundiaí. Estrearam na coreografia “Virtude” na TV Gazeta.
O grupo foi crescendo, mudando, incluindo novos dançarinos.

Invictos no Festival de Joinville
2009: Campeões.
2010: Bicampeões.
2011: Tricampeões.
Três anos consecutivos. Inédito.
2012: Convidados especiais para a Noite de Gala.
2013: Fui convidado pessoalmente pra trabalhar como jurado. Eu, cara. Jurado.
Robôs internacionais
2012. O Globo resolve fazer uma matéria sobre a estética Glitch se espalhando pelo mundo todo.
E adivinha quem eles entrevistaram?
- Rosa Menkman – nossa musa inspiradora da Glitch Art.
- José Irion – artista visual que a gente admirava e que depois virou nosso parceiro numa colab.
- E eu – Bidu, como referência brasileira na dança.
Cara, imagina só. Numa matéria internacional sobre Glitch, o D-Efeitos ali no meio, representando.

Depois veio o Kia Dubstep Contest. A Kia levou o D-Efeitos pra competir como duo na Polônia.
Mas peraí, não foi só “na Polônia” não.
A Kia levou eu e o Dedo pra competir como duo na abertura da Eurocopa. Isso mesmo, Eurocopa! Aproveitando a onda do dubstep que tava explodindo no mundo.
Foram 150 inscritos do planeta inteiro. Votação pública mundial. Resultado? 8 selecionados.
Nós dois lá, representando o Brasil numa abertura de Eurocopa.

Voltamos pro Brasil já tendo que ensaiar pra fazer a abertura da grande final do Red Bull BC One.
Também tínhamos nosso primeiro espetáculo completo de palco: “D-Versos”. Não era mais um remendo de várias coreografias, mas uma peça artística caprichada, com começo, meio e fim.
Junto com o espetáculo, a gente lançou uma MIXTAPE e um DVD.
Quem tem essas relíquias aí guardadas? Patrimônio histórico da dança urbana brasileira na sua estante.

Nessa época o Kinho Carlos já andava com a gente, ajudando nos bastidores absorvendo tudo nos treinos e ensaios.
O Igor Trakinas, irmão de popping dele, também estava sempre junto, treinando.
Ambos ainda não eram destaque ainda na cena de popping do Brasil e do mundo, mas eu sabia que seriam.
Upgrade dos componentes
Voltamos pra fase de pesquisas depois de tantas aventuras.
Kinho oficializou no grupo em 2013. Estreou numa apresentação do “D-Versos”.
Estreou na Virada Cultural. D-Efeitos fazendo pocket show na Praça das Artes.
O público? Milhares de pessoas. Literalmente milhares! Extrapolou todas as cadeiras reservadas. Galera em pé, sentada no chão, pendurada onde dava.
Fim do show? Não, cara. Fim da apresentação, mas não da experiência.
Ainda no modo-robô, nós quatro ficamos lá atendendo o público. Foto com todo mundo. Não saímos enquanto não teve um único fã sem foto tirada.

Mais um fenômeno que virou notícia. Fomos parar em todo lugar:
- Folha de S. Paulo,
- O Estado de São Paulo,
- O Globo,
- Ig,
- Globo.com
- Sem contar os veículos especializados em dança e tecnologia.
2014: A própria Rosa Menkman, pioneira mundial da Glitch Art, notou a gente!
A mulher que inspirou nossa estética desde o começo deu o selo de aprovação. Validação internacional máxima.

2015: Trakinas, parceiro do Kinho, entrou também. Estreou no Festidança.
Os dois passaram de admiradores a portadores da bandeira do grupo por dois anos!
Explosão digital
A visibilidade do grupo na TV e internet fez o termo “D-Efeitos” virar busca estratosférica da noite pro dia.
Orkut (a melhor rede social que já existiu, sem discussão): dezenas de fã clubes criados pelos próprios fãs.
YouTube: milhões de visualizações que não param de subir até hoje. Nem brincadeira.
Newsletter: 10 mil pessoas na base ativa. Isso muito antes do Substack existir, ok? Estamos falando de uma época em que vídeos em HD eram raros na internet!
E tem uma que quase ninguém sabe: o D-Efeitos teve projeto de série de animação. Avaliado com nota 10 por uma banca audiovisual profissional.
Imagina se tivesse saído do papel…
Circuito fechado
Em 2017, diminuímos o ritmo.
O grupo foi se dissipando depois de trabalhar bastante. Fechamos as atividades por volta de 2018.
Fizemos bastante, pra um grupo de dança de rua. Adicionamos nossa contribuição à história. As reverberações do impacto foram permanentes.
E não sei o que dizer sobre isso além de… Que honra!

Última apresentação cênica no town hall executivo da Volvo, 2023
Encerro aqui, por enquanto.
Mas preciso comentar que a maior parte dos membros continua na ativa (na data desse post):
- Eu trabalho com treinamentos particulares, e com coreografias. Fui indicado de novo a melhor coreógrafo no Festival de Joinville em 2023, por um duo do Vini e Thiago Miyamura que montei;
- Trakinas e Kinho são competidores e professores internacionais de muito sucesso. Estão morando na China. Às vezes, dançam a coreografia Lights por lá, representando o D-Efeitos;
- Vini e Riku são coreógrafos e professores de primeira linha, lançando trabalhos sempre;
- Livi e Juno ainda dançam, e são ocupados com trabalhos fora da dança, família, e lifestyle atarefado;
- Dedo também, e sumiu por um tempo. Mas hoje em dia, é comum vê-lo nos eventos e treinos em São Paulo.
Trakinas e Kinho ensaiando a coreografia Lights em 2020
Os heróis por trás dos robôs
Nenhum grupo explode sozinho. Teve uma galera fundamental que fez o D-Efeitos acontecer:
Frank Ejara: Meu mentor, esteve do começo ao fim. Primeira coreografia no meu quarto? Frank tava lá. Quando ganhamos no SBT? Frank tava na platéia. Até topou gravar o “Holograms” com a gente, de figurino e tudo.
Soldierman: Nosso primeiro agente. Quando fomos pro SBT, ele cuidou de tudo – ensaio, comida, figurino, produção. Era quem ficava no camarim torcendo pela gente. Saiu logo depois que ganhamos, mas foi essencial.
Daniel 3D: Editor e designer que criou nossa cara. Identidade visual, equipamentos, gravação, edição – tudo passava por ele. Nossos vídeos oficiais existem por causa dele.
Nanachara Xavier: Produtora do SBT na época do “Qual É Seu Talento?”. Depois que o Soldierman saiu, ela ajudou com agenda, organização, planejamento. Ponte importante.
Larissa Tietjen: A diretora do grupo de 2010 até o final. Agente, produtora, organizadora de ensaios, arquivista, relações públicas – tudo que você imaginar. Sem ela, estaríamos perdidos, sério. Amiga minha e do Livi desde antes do grupo existir. Maior admiradora e quem mais entendia do D-Efeitos no mundo. Até escreveu um projeto audiovisual sobre o grupo. Dedicação total.
Alberto Cabral: Pai do Dedo. Acompanhava nossos ensaios e nos recebia em Cmapinas como se fôssemos da família. Sonhou com o conceito da nossa terceira coreografia em Joinville. Nomeamos ela “Sonho”. Nos rendeu o tricampeonato! Cabral estava junto, comemorando com um figurino igual ao nosso. Encomendou sob medida.
Marilia Romera: Dançarina profissional, fundaria a produtora audiovisual Bolhaset junto com Livi. Ensaiávamos em seu estúdio em Santo André. Ajudava nas tarefas e perrengues sempre.
Renato Charz: Dançarino e iluminador. Transformava minhas idéias malucas de palco em realidade.
Luah Marques: Dançarina que vinha com a gente pra ajudar com fotos e mil tarefas. Sempre disponível.
Flip Couto: Parceiro co-fundador do Funk Fanáticos comigo. Viu o D-Efeitos nascer e sempre ajudou quando precisávamos.
E pra fechar: todos os dançarinos que ainda estão por aí e foram direta ou indiretamente influenciados pelo grupo.
Vocês fizeram parte da história. Valeu!

Acompanhei essa história dessa trajetória desde antes do começo.
Confirmo isso!
Faltou eu nessa lista aí! Rsrs
Sou fã eterna!
É verdade! Adicionando já.
Fez parte da infância de uma pá de crianças que hoje imitam robôs, se divertindo nas festas. Eu fui uma dessas crianças.