Eu achava que dançava.
Estava errado.
Na escola, eu chamava de “break aéreo”. Uma mistura de movimentos que eu copiava. Sem entender.
Eu não sabia de nada.
Foi num shopping que vi os Discípulos do Ritmo. Um grupo liderado por Frank Ejara.
Vi a performance. Fiquei impressionado.
Pedi info sobre aulas.
Minha dança, demolida
A primeira aula foi um soco.
Fui pro Clube Cisplatina esperando passos loucos. Pra ganhar batalhas contra meus amigos.
Frank me deu história. Cultura. Filosofia. Sobre o “break”, ele disse: “Isso não é uma coisa só.”
Era um universo.
Breaking. Popping. Locking. Estilos distintos. Com fundadores e regras. Com histórias e tradições.
Eu não sabia de nada!
Atrás do alto nível
Frank Ejara não era professor comum.
Era um obcecado!
Mas aqui está o segredo que ele me disse anos depois:
Toda essa obsessão tinha uma razão simples. Frank queria dançar melhor. Não era sobre ser historiador ou preservar memórias. Era egoísmo puro. Ambição técnica!
Mas ele acabou descobrindo algo incrível: quanto mais aprendia sobre os fundamentos, melhor ficava na prática. “Como se meu cérebro evoluísse junto”, ele me disse.
Frank sacou que quando você sabe a história de algo, você faz com mais propriedade. Porque entende o porquê.
Resultados práticos da pesquisa do Frank – 2000 a 2003
A mente funciona assim: Começa imitando. Depois melhora através do saber. Essa descoberta o viciou. Ele queria mais e mais info.
O resultado?
Ele não te ensinava um movimento. Ele te mostrava os criadores.
The Lockers. Electric Boogaloos. Rock Steady Crew.
Para ele, esses nomes eram a chave. Para dançar como nunca conseguiria sem entender o porquê.
Ele não queria que você dançasse como eles. Ele exigia que você entendesse por que eles dançavam assim.
A cultura. A mente. O comportamento.

E no caminho dessa busca pelo alto nível, Frank descobriu algo que mudou tudo:
O respeito não era bônus moral. Era a arma mais forte para evoluir. O método dele ia além da técnica. Ele focava na bagagem cultural porque isso te fazia dançar melhor.
Isso mudou minha vida. E a de muitos outros no Brasil.
O código secreto
Frank nos ensinava o popping dos Electric Boogaloos. Sabia demais sobre o assunto. Na época, a pesquisa que ele passava era a seguinte:
Movimentos base:
- Fresno
- Twist-o-flex
- Neck-o-flex
- Master Flex
- Walkouts
- Old Man
- Masterpiece
- Roman Twist
- Egyptian Twist
- Romeo Twist
- Rolls
- Alguns Ground Moves rudimentares
Estilos dos EBs:
- Popping
- Boogaloo
- Electric Boogaloo
- Toyman
- Puppet
- Scarecrow
- Ticking
- Creeping
Outros movimentos relacionados:
- Air Pose
- Dime Stop
- Shamrock
- Sacramento / Saccing
Estilos que eles faziam (mas não criaram):
- Waving
- Tutting
- Robot
- Sliding
- Snaking
- Animation
- Strobing
Parecem palavras aleatórias?
Para nós era o código de um mundo novo. Levamos mais de um ano só para sermos apresentados a isso.
Pense nisso. Mais de um ano. Só para arranhar a superfície do que eu chamava de “break”.
E tem muito mais! Isso aqui é só o que aprendi com Frank entre 2003 e 2005. Era antes do YouTube. Antes do Instagram.
Info não estava a um clique.
O arquivista
Frank tinha uma biblioteca. Fitas VHS. Relíquias que ele trocava com outros loucos pelo mundo.
Ele era nosso Google. Nosso guardião do saber.
Tudo conquistado na raça, em busca de dançar melhor.
Foi nessas fitas que vi pela primeira vez dezenas de vídeos dos Electric Boogaloos e mais alguns do Demons Of The Mind, Medea Sirkas, Chuco, Mr. Animation, Storm, Steen, Bopping Andre, Flattop, Robert Shields.
Começou querendo ficar bom, e sem querer virou uma enciclopédia.
Frank dançando com os Electric Boogaloos. Tá bom ou quer mais?
Como Ser Importante – A Lição
A coisa mais importante que aprendi com Frank não tem nada a ver com dança.
É esta:
A grandeza não vem de copiar o popular. Vem de desenterrar a verdade.
Frank virou lenda na dança brasileira não porque queria fama. Nem pensava nisso.
(Essa é a armadilha em que você tá caindo agora na sua área).
Ele virou lenda por causa da ambição técnica. Uma trajetória em busca do mais alto nível. E descobriu que respeitar as raízes não era só questão moral. Era a melhor estratégia para evoluir.
Muita gente vira pesquisador. Mas não melhora tecnicamente, porque estudam pelo estudo. Não pela prática.
Frank estudava história para dançar melhor. E funcionou. Parece estranho, né?
A pergunta é:
Você tá disposto a estudar as raízes para ter essa clareza? A fazer o trabalho que ninguém vê? Sabendo que cada info que você desenterrar vai te fazer melhor na prática? Porque é aí que a magia acontece.