Você já se perguntou como uma dança pode transformar uma geração inteira?
O início dos anos 2000 foi um período chave para o popping e estilos de dança relacionados no Brasil.
Como estive presente durante esta era, vou falar sobre os anos de 2003 a 2007.
Com certeza vou esquecer de citar alguns grupos, dançarinos e eventos. Qualquer coisa, me manda uma DM e atualizo aqui.
Frank Ejara e o primeiro contato
2003. São Paulo fervilhava. Mas não era samba, nem axé. Era algo novo, elétrico, quase alienígena.
Eu estava lá. No olho do furacão. Com o Flip Couto ao meu lado, absorvendo cada movimento que Frank Ejara nos ensinava.
“Funk Styles”, ele dizia. Este termo, embora menos comum hoje, era o que usávamos para descrever uma coleção de danças que incluía todos os estilos relacionados ao popping, e mais o locking.
Tenho a lista dos estilos que conheci nessa época nesse link aqui. Com certeza não é completa, mas dá pro gasto.

B-Boys estudando Funk: O underground se divide
Imagine a cena: b-boys dominavam.
Nós, os Funk Fanáticos, éramos uma transformação do status quo.
Funk Fanáticos foi o primeiro grupo dedicado aos Funk Styles no Brasil, que formei com Flip e, inicialmente, Rodriguinho.
Mas não estávamos sozinhos nessa história. Alguns membros dos grupos de b-boys dessa época eram interessados também.
Crews de B-boys com dançarinos de Funk Style:
Backspin Crew:
Casper, Marcelinho, Banks, Drika, Cris Ramos, Juju Ramos, Soneka, Smile.
Palmares Dream Crew:
Goga, Fúria Latina.
Dynamic Breakers:
Paulinho, Ley, Zóio, Santiago.
Nossos rivais, na época!
Ghetto Freak:
Luizão, Celso.
Die Hard Crew:
Jeff.
Sampa Masters:
Djha, Bionda, Flip (pré-Funk Fanáticos).
Outros membros dos Discipulos do Ritmo, companhia do Frank:
Eduardo Sô, Morgana, Eder, Mônika.
E havia outros. Salada, o rei do Robot. Eskipopper. Bella Soul. André Rockmaster e Michel Martins. Jaspion, que surgiu do nada, como um cometa, exigindo seu lugar entre nós.

Electric Boogaloos + Doideiras: Minha Fórmula
Nosso treino? Uma loucura científica. Focava em:
- Locking (inspirado pelos The Lockers)
- Popping e Electric Boogaloo (inspirado pelos Electric Boogaloos)
No meu caso individual, tirei dos Funk Styles dessa época as seguintes características pro meu estilo:
- A base de movimento dos Electric Boogaloos. Fresno, Walk-out, Twist-o-Flex. Tinha acabado de aprender esses fundamentos com o Frank.
- Dime Stop e Ticking para precisão cirúrgica.
- Robot. A evolução mecânica.
- Drops complicados. Quedas contorcidas contra a gravidade.
- Combinações de ground moves explosivos. Eram os destaques.
- Variações de Twist-o-Flex. Influência direta do estilo pessoal do Frank correndo nas veias.
- Movimentos improvisados espontâneos:
- Ora espasmódicos, jogados, caóticos, amplos
- Ora controlados, curtos, robóticos, de alta precisão
- Alguns tricks e movimentos montados.
Eu não me via como dançarino experimental, pois desenvolvi uma fórmula a partir de tudo o que vi nos Funk Styles.
No Meio Dos B-Boys: Master Crews e Batalha Final
Não existiam eventos de popping. Então, invadimos os de b-boy. Master Crews. Batalha Final. Nomes que faziam nosso sangue ferver.
Se você se lembra das batalhas do Funk Fanáticos vs. Dynamic Poppers nas edições da Master Crews, sabe do que estou falando.
E quando não bastava? Criávamos nossas próprias arenas. Eu e Dil organizamos o primeiro evento exclusivo de popping em 2007. Uma revolução dentro da revolução.

Aconteceu na quadra de uma escola pública, durante um domingo. Não esperávamos que lotasse como lotou!
Meeting Hip Hop: Bidu vs Ley, O Clássico
De repente, pisei pra fora da cena de breaking e descobri o mundo mais acadêmico. Festivais. Estúdios. Competições coreográficas.
Meeting Hip Hop. Passo de Arte. Fitness Brasil. Jopef. Festival Internacional de Hip Hop. Festival de Dança de Joinville. Festidança. Batalha Urbana SPDRJ.
O Meeting Hip Hop foi meu batismo de fogo oficial. Segundo campeonato organizado de popping do Brasil, depois do meu e do Dil. Fiquei em segundo lugar contra o Ley.
Uma derrota que saboreei como vitória.
Nasceu ali um “clássico” do popping brasileiro. Todo mundo ouviu falar sobre essa batalha, em uma época em que o YouTube nem tinha qualidade HD ainda. Outros festivais queriam batalhas de Popping em suas programações.
O Funk É Style
A coisa estava se espalhando!
E nesse meio dos estúdios e festivais, descobri mais dançarinos empenhados em aprender Funk Styles:
Ritmos de Rua / Ritmos Base:
Amanda Angel, Kaju, Kleber de Paula, Eliseu, Adriano, Lu Bauer.
The Face:
Haysten, Negraxa, Shoiti, Hideki, Coruja.
Oficina Hip Hop (Bauru):
Bila, Pedro, Chorão, Fran Manson, Vini Azevedo, Marquin.
Crazy Jam (Ribeirão Preto):
Tadeu.
Freestyle Force:
Grupo do Márcio Alves. Os que aprenderam funk styles ajudaram a fundar o Chemical Funk.
XStyle (RJ):
Nobru, Ursão, Bruno X, Luciana Monnerat.
Nossos rivais cariocas, na época!
Companhia de Performance:
Anna Pessuti, Daniel Famano. Ambos entrariam para o Funk Fanáticos!

De Dupla a Companhia: 9 Membros, Uma Revolução
Nossa trupe cresceu. Evoluiu.
E depois dessa caminhada que levou cerca de 3 anos, o Funk Fanáticos era:
- Flip (Diretor)
- Bidu
- Jaspion
- Anninha Pessuti
- Daniel Famano
- Dedo
- Cris Lock
- Juju Ramos
- Vini Azevedo (último integrante a entrar)
Não éramos só batalhas. Éramos coreógrafos.
Nossas obras cênicas “Mais Um Dia”, “Let’s Dance”, “Express” mostravam a influência vinda do Frank Ejara e Discípulos do Ritmo. Shows que contavam nossa história. A história de uma geração.
Novos Grupos
No final deste período, estávamos vendo a semente se tornar uma floresta.
Surgiram mais grupos dedicados aos Funk Styles durante essa história toda:
Chemical Funk:
Ivo, Nati Glitz, Tadeu, Begins, Popping Di, Chorro, Marcio Alves, Zildo, Lelê, Smile.
The Funk Men:
Alex Boogie, Chicano, Dodô.
Double Lock:
Darlita, Diego Groove, Alan Ferrari.
Popping’Pacto:
Dil, Xandão.
Funkaholics:
Dil, Peo, Carol, Charz.
Mais:
Jurandir e Renanted (crias do Jeff Moreira), Kiko Pop e Ervilha (Campinas), Negresco, Sualegue, Coquinho.
Jam Olido: O Epicentro
E no centro de tudo? Jam Olido. O ponto de encontro. O coração pulsante da cena que Frank e eu criamos.
Mas isso fica pra uma próxima história.
